Particularmente (ainda não mudei completamente a minha opinião), a característica marcante dos vinhos feitos Pinot Noir é seu teor leve e frutado, jovem. Um vinho claro, feito para ser bebido frio (entre 13 e 15 graus), com aromas bem sutis. Me decepcionaram todos que haviam sido envelhecidos em carvalho pois a madeira pode arruinar o sabor final do vinho, bem como seu aroma, quebrando o buquê frutado e fornecendo um toque amadeirado e amargo no final.
Eis que o amigo Carlos Nogueira da abflug Vinhos ao saber desta opinião me propõe o desafio. Coloca à minha frente esta garrafa de Jean Bousquet disparando: "Agora você vai mudar a sua opinião".
Minha resposta foi imediata: "Tomara mesmo, pois até então só tive decepções com os Pinots de reserva". Minha curiosidade não durou 3 dias. Coloquei a garrafa na geladeira por 35 minutos, para dar aquela refrescada. Ao colocar na taça, uma coloração inusitada, lembrando levemente caramelo, mas com total predominância para as cores tradicionais de um Pinot: cereja vivo translúcido, bem claro. Com 14% de álcool (uma marca também diferente para um Pinot, que costuma ter 12,5% a 13%) ele tem mais potência que os frutados sem barrica e no aroma, no ato é possível sentir as notas tostadas da madeira, mas de forma harmônica com os "cheirinhos" de frutas como cereja.
Ao paladar foi muito agradável, tinha um toque amanteigado, conferido pelos 10 meses nos tonéis de madeira. Mas o carvalho não oprimiu a fruta, o que até então havia acontecido em todas as vezes que experimentei esta combinação. O vinho estava harmônico, com uma potência delicada, um toque licoroso, a manteiga estava presente na textura, que não é totalmente seca, mas envolvente, com traços também de baunilha. Espero que seja o primeiro de muitos Pinots de reserva em equilíbrio que surgirão daqui em diante.